Paris, 30 de abril de 1915

Querida Elisa,

Escrevo-te esta carta para te dizer que me encontro vivo. A guerra está cada vez mais destruidora. Ainda ontem sofremos uma emboscada por parte dos alemães. A situação descontrolou-se e o general Sebastião Guedes de Oliveira, para proteger o batalhão, acabou por ser executado.

Não te assustes! Tanto eu como o Pedro estamos bem. Avisa a Celeste que o nosso genro está bem, pois ela poderá ler no jornal notícias sobre o ataque e ficar preocupada. Houve muitos mortos, mas nós os dois ficámos a salvo, graças a um inglês chamado Peter. Ele acabou por ficar ferido, para nos conseguir ajudar a encontrar um refúgio.

Hoje, sinto-me cansado, por isso, escrevo-te esta carta. Ao escrevê-la, sinto-me mais perto de vós. Tive de sair do refúgio para encontrar uma caixa de primeiros socorros, de forma a conseguir ajudar o Peter a curar-se. Senti muito perigo. Tive medo de não conseguir terminar a minha missão. Mas consegui! Voltei para junto dos meus companheiros e juntos tratámos das feridas do Peter.

Os próximos dias serão complicados, pois diz-se que os alemães preparam uma segunda emboscada. Receamos esse momento, porque eles têm armamento bélico mais poderoso que o nosso. Assim que me sentir mais seguro, voltarei a escrever-vos. Quem sabe se não será para te informar que a guerra acabou e que eu irei regressar para casa! Oxalá que sim.

Despeço-me com muitas saudades e com vontade de lutar para regressar a casa.

Emílio Laranjo

Peter encontrou esta carta escrita por Emílio quando se preparava para voltar a Inglaterra, para sua casa, depois de ter sido dado como inválido, por causa da perda da perna esquerda. Emílio nunca chegara a enviar a carta, porque faleceu quatro dias após a escrever, na segunda emboscada feita pelos alemães.