O regresso do escudeiro (I)
"Afinal, o escudeiro Brás da Mata não morreu e regressou a casa…"
Estava Pêro Marques a fazer uma massagem a Inês, em sua casa.
( Truz-truz ...)
INÊS: Abre a porta, marido.
(Pêro Marques abre a porta e entra Brás da Mata.)
BRÁS DA MATA: O quanto te procurei, minha Inês! Escapaste do baú onde te guardava! E o moço? Nem vê-lo! Vejo que já arranjaste uma bela casa para ti e um novo serviçal.
INÊS: Brás da Mata?! Julgávamos-te morto quando fugias da guerra! Estou a ter visões?
PÊRO MARQUES: Se estais louca, minha Inês, eu estou também!
BRÁS DA MATA: “Minha Inês”? Minha é ela moço!
INÊS: Meu moço não é ele! Ele é meu marido. Apresento-te Pêro Marques.
(Pêro Marques estende a mão, o que Brás da Mata ignora.)
BRÁS DA MATA: Eu fugi da guerra por ti, Inês. Fingi-me de morto por ti!
INÊS: Por mim?! Não terá sido por seres um cobarde medroso?!
BRÁS DA MATA: Se vivo estou, casada comigo estás! Vem comigo, Inês, és minha por direito!
INÊS: Com ele também sou casada, prefiro ficar aqui livre com ele, do que contigo trancada.
BRÁS DA MATA: Não me faças perder a paciência, Inês. Se não vieres comigo direi a todos que és casada com dois! O que pensará a igreja? E tua mãe, Inês?
INÊS: Ninguém acreditará!
BRÁS DA MATA: De mim, nobre escudeiro, ninguém duvidará!
(Pêro dá um passo em frente, tropeça e empurra o escudeiro para dentro de uma despensa. Inês roda a chave na fechadura, trancando Brás da Mata.)
INÊS: Ele ficará ali fechado como eu estive durante uma eternidade.
PÊRO: E não virão à procura dele? E se nos apanham?
INÊS: Ninguém procura um morto. Ele ficará ali como cavalo em sua cela.